"Marte não é o planeta seco que pensávamos. Em certas circunstâncias, existe água líquida em Marte", disse Jim Green, diretor de ciência planetária da Nasa, em anúncio nesta segunda-feira.
Em uma entrevista coletiva, cientistas da agência espacial americana afirmam que manchas escuras observadas na superfície de Marte podem estar ligadas à existência de água corrente durante o verão no planeta.
"Essas manchas se formam no fim da primavera, aumentam no verão e somem no outono. Por 40 anos, não pudemos explicar por que elas existiam", afirmou Green.
"Marte sofreu uma enorme mudança climática e perdeu sua água. Mas há muito mais umidade no ar do que jamais havíamos imaginado."
Dados do satélite Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) mostram que as linhas escuras, que aparecem em declives marcianos, estão associadas a depósitos de sal, que podem alterar os pontos de congelamento e evaporação da água, fazendo com que ela fique líquida por tempo suficiente para se mover. Sem isso, a água congelaria nas baixas temperaturas do planeta.
A aparente existência de água líquida e corrente aumenta a possibilidade de que micróbios também possam existir hoje – ou ter existido – no planeta vermelho, segundo os cientistas.
A descoberta também tem implicações para os planos de enviar astronautas a Marte, já que a identificação de córregos perto da superfície poderia facilitar o estabelecimento de colônias.
Minutos antes do anúncio, o estudo de Lujendra Ojha, do Instituto de Tecnologia da Georgia, nos Estados Unidos, foi divulgado na publicação científica Nature Geoscience.
"Nossas descobertas apoiam fortemente a hipótese de que as linhas recorrentes em declives se formam como resultado de atividade contemporânea de água em Marte", afirma o estudo, esclarecendo que "a origem da água que forma as atuais linhas em declives ainda não foi compreendida".
"A água é essencial para a vida como a conhecemos. A presença de água líquida em Marte hoje tem implicações astrobiológicas, geológicas e hidrológicas que podem afetar a futura exploração humana."
'Fim do mistério'
"Precisamos de múltiplas espaçonaves durante muitos anos para resolver esse mistério, e agora sabemos que há água líquida na superfície deste planeta frio e deserto", afirmou Michael Meyer, cientista-chefe do programa de exploração de Marte da Nasa, durante a coletiva.
As imagens divulgadas pela agência espacial mostram penhascos e paredões em vales e crateras, marcados por linhas que podem se estender por centenas de metros durante o verão marciano. Em alguns pontos, as linhas se combinam formando padrões intrincados.
Os cientistas ainda não sabem de onde poderia vir a água, mas o estudo levanta possibilidades, ainda não comprovadas, como a de que ela venha de aquíferos salgados, se condense a partir da fina atmosfera marciana, ou mesmo de uma combinação de ambos os fatores, em diferentes partes do planeta.
O pesquisador Alfred McEwen, membro da equipe de pesquisadores do MRO e professor de geologia planetária na Universidade do Arizona, afirma que ainda não foi encontrada "água parada" no planeta, mas, sim, camadas finas de solo molhado. "Essa água é mais salgada do que a dos oceanos da Terra", afirmou.
Três espaçonaves devem ir a Marte nos próximos três anos. Uma delas é o veículo ExoMars, da agência espacial europeia (ESA), que vai perfurar a superfície do planeta para buscar vestígios de vida.
'Como a Terra'
De acordo com John Grunsfeld, chefe da equipe científica da Nasa, Marte já foi um planeta "muito parecido com a Terra, com mares salgados e mornos e lagos de água fresca".
"Mas algo aconteceu com Marte, que perdeu sua água. Será que já houve vida no planeta e podemos descobrir isso?"
Pesquisadores já haviam encontrado provas de que o planeta tinha água congelada em seus polos, em sua fina atmosfera e, mais recentemente, em pequenas poças que pareciam se formar à noite na superfície.
Em março, a Nasa revelou ter descoberto que um vasto oceano pode ter ocupado quase metade do hemisfério norte do planeta.
De acordo com os pesquisadores, o oceano teria existido por cerca de 1,5 bilhão de anos, mas, com o tempo, a atmosfera do país ficou mais fina, e a queda na pressão do ar fez com que mais água fosse perdida para o oceano.
O planeta também teria perdido a maior parte de seu isolamento térmico e, sem calor suficiente para manter a água líquida, o oceano diminuiu e acabou congelando. Hoje, apenas cerca de 13% da água permaneceria, congelada nos polos marcianos.
Em abril, a agência espacial divulgou que o veículo Curiosity encontrou informações que mostravam a existência de água bem salgada – uma espécie de salmoura – no solo marciano.
FONTE: BBC BRASIL
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Prof. Sérgio Torres
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