Uma das frases muito comum de ouvir das pessoas normais quando um parente ou um amigo comete o suicídio é: Por que ele não procurou ajuda?
Examinando os fatos mais de perto com uma lente de aumento não necessariamente grande vemos que seu parente ou amigo teve acessos de agressividade sem causas, se isolou sem nenhuma causa aparente, procurou consolo na bebida, consultou-se com médicos, tomou medicamentos, tomou drogas, internou-se numa clínica de reabilitação, chorava constantemente e mesmo quando ele mencionou a palavra suicídio as pessoas normais não deram a devida atenção.
Agora elas ainda têm a coragem de perguntar: por que ele não procurou ajuda?
É comum ele ter procurado ajuda e quando esta foi recusada ele ter ficado recluso e com vergonha de ter essa terrível doença que é a depressão. Ele deu todas as pistas. Apenas as pessoas não enxergavam porque é difícil de enxergar e muitas vezes culpam a pessoa depressiva pela sua própria depressão.
É irônico, pois uma pessoa que tem essa terrível doença da depressão ainda tenha que lidar com a culpa de tê-la.
Todo mundo entende que uma pessoa não tem culpa de ter um câncer terminal, de ter um infarte fulminante, não tem culpa de ter um AVC, que são doenças de fácil compreensão.
Quando se trata do cérebro onde uma doença terrível e terminal, chamada depressão, o assola e o doente chega ao estágio terminal todos se assustam e se perguntam o que deu nele para cometer o suicídio. ELE POSSUÍA UMA DOENÇA TERMINAL CHAMADA DEPRESSÃO. Não foram problemas financeiros, todos nós temos, não foi a morte de um parente, todos morrem, não os problemas da vida, todos nós temos, foi uma doença terminal pior que um câncer, que um infarto ou que um AVC. Foi uma doença que quem possui tem ainda vergonha de ter e quando pede ajuda, geralmente é negligenciada e quando comete suicídio, parte terminal da doença, além de já ser tarde demais as pessoas ainda tem a coragem de se perguntar e o julgar "por que ele não pediu ajuda?"
Chego até a considerar a pessoa que tem depressão como um herói, pois após as primeiras recusas de ajuda e saber do fato de ser um peso que é para parentes, amigos além da culpa que sente por possuir essa doença terminal e incurável, ele se afasta, ele para de incomodar, sofre dores terríveis causadas pelo isolamento em silêncio e apenas tem um conforto de todo seu tormento: não estar mais aqui após cometer o suicídio, pois seria ainda mais terrível ter que escutar as pessoas falando: por que ele não procurou ajuda? Não sabia que era tão grave! etc etc etc.
Apenas como uma forma de dirimir a culpa de não ter feito o papel que uma pessoa da família ou um amigo tem, ou seja, ajudar quando alguém possui uma doença terminal.
A pessoa com a doença terminal da depressão não tem como superar sua condição e necessita de cuidados pela vida toda. Mas, quem tem tempo para isso?
Não culpo as pessoas normais como se elas fossem assassinas ou relapsas, pois não são nem uma coisa nem outra.
Apenas constatem um fato: uma pessoa com a condição de depressão terminal não tem culpa de ter essa terrível doença.
Portanto, se um amigo ou parente é agressivo sem motivo, se ele se isola, se ele bebe muito ou se droga. As pessoas normais não devem taxar esse doente terminal de agressivo, bêbado, de não ter amigos.
Devem procurar a raiz do problema e vão chegar a uma doença terrível, terminal, que afasta os amigos e parentes e faz o que nenhuma doença faz, tornar a vida insuportável. Constantemente insuportável.
Então, o suicídio é uma fase natural dessa doença que é a pior de todas as doenças, pois, o doente terminal, além de carregar um sofrimento durante toda a existência, ainda tem que conviver com a culpa de ter essa doença terminal.
A pessoa que tem a doença terminal da depressão não tem culpa de ter essa doença terrível, como qualquer pessoa não tem culpa de um acidente fatal, de um AVC ou de um câncer.
Como um exemplo óbvio temos o caso de Philip Seymour Hoffman que procurou ajuda, que se internou para se reabilitar e quando cometeu o suicídio veja o comentário de Margaret Wente:
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Like everybody else, I was shocked when Philip Seymour Hoffman died. I adored him. “What a tragedy,” I told my husband.“What an asshole,” he replied.
I knew I was supposed to feel sorry for him. He had struggled with his demons and lost. But the circumstances of his death were particularly degrading. He died in his underwear, surrounded by empty bags of heroin, a needle in his arm. A great talent had become a pathetic junkie.
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http://www.theglobeandmail.com/globe-debate/philip-seymour-hoffman-had-a-habit-not-a-disease/article16847458/
Ela mencionou as palavras "patético" e "asshole" para um paciente terminal.
É muito irônico, trágico e terrível que Philip Seynmour nem pôde ter a chance de afirmnar: "patética e "asshole" é a senhora!!"
Forte abraço,
Sérgio Torres
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Prof. Sérgio Torres