Grandeza absoluta X Grandeza relativa
Podemos citar
como exemplo de grandeza absoluta a carga elétrica de um corpo. Qualquer
observador sempre mede a mesma carga elétrica para certo corpo, esteja ele
parado ou em movimento em relação ao observador.
Como exemplo
de grandeza relativa temos a velocidade de um corpo que, como já sabemos da
mecânica clássica, pode assumir valores diferentes em medidas feitas por
observadores distintos.
Para não
ficar nenhuma dúvida no ar, vamos definir:
Revisitando
um problema clássico de relatividade do movimento em Física
Em mecânica,
você estuda cinemática e vê, dentre outras coisas, que um movimento só pode ser
descrito uma vez que se estabeleça um referencial.
Se você diz,
por exemplo, que está viajando num automóvel com velocidade de 100 km/h, fica
subentendido que seu carro se move a 100 km/h em relação ao asfalto.
Se na sua
frente vai outro automóvel, com velocidade 80 km/h, também medida em relação à
pista, você estará se aproximando dele com velocidade relativa de 20 km/h, ou
seja, a sua velocidade, medida no referencial do outro automóvel, vale 20 km/h,
pois 100 - 80 = 20 km/h.
Um observador
O1, parado à beira da pista, ou seja, com velocidade nula em relação ao chão,
vê os dois automóveis movendo-se para frente, a 100 km/h e a 80 km/h,
respectivamente.
Um outro observador 02, que
viaja com você, dentro do seu carro, vê o automóvel da frente andando para trás, como se estivesse em marcha a ré, vindo para cima do seu, a 20 km/h.
Um terceiro observador 03,
convenientemente posicionado no carro da frente, vê o carro de trás indo de encontro
a ele, andando para frente, também a 20 km/h.
Os observadores 02 e 03
juram que o observador O1 se move, só que cada um deles mede uma velocidade diferente para O1
Se perguntarmos para os três observadores o
que estão vendo, teremos três respostas diferentes. Quem estará certo? Qual é a realidade? Quem está dizendo a verdade? Qual carro anda para frente? Existe mesmo algum carro
que anda para trás? Qual é o valor correto da velocidade de cada automóvel?
Note que não existe nesse
caso uma única resposta verdadeira, ou seja, não existe uma medida absoluta. Existe sim uma única realidade mas
cada observador a percebe de uma forma diferente, no seu próprio referencial.
Com base nesse exemplo simples mas
muito significativo, concluímos, do ponto de vista da física clássica, que:
Como consequência podemos
afirmar que, do ponto de vista da física clássica:
Absoluto ou relativo?
O que significa ser absoluto? E
relativo, o que quer dizer?
Dentre algumas definições possíveis, veja o que
diz o dicionário Aurélio (na versão on-line, na internet):
Algumas grandezas físicas são absolutas, ou seja,
não dependem do
observador ou do referencial de medida. Outras são relativas.
O dicionário e a Física estão de pleno acordo!
O comportamento das ondas e a relatividade do movimento
No final do
século 19 os movimentos ondulatórios já eram bastante conhecidos.
O som e as
ondas mecânicas eram bastante familiares para os cientistas, bem como as ondas eletromagnéticas,
propostas teoricamente pelo físico escocês James Clerk Maxwell (1831-1879) e já
obtidas experimentalmente pelo físico alemão Heinrich Hertz (1857-1894). A luz
era interpretada como uma onda eletromagnética.
Acreditava-se
na época que toda onda, mecânica ou eletromagnética, precisaria de um meio para
se propagar. Aliás, o nome onda vem dessa ideia de que, ao se propagar, uma
onda provoca ondulações no meio.
Sabia-se que
o som, como qualquer onda mecânica, se movia apenas na presença de um meio
material sólido, líquido ou gasoso. Acreditava-se também que a luz pudesse
necessitar de um substrato (meio) para se propagar. Esse meio, supostamente
fluido, foi chamado de éter*. Como ele nunca havia sido detectado
mecanicamente**, deveria ser extremamente rarefeito. No entanto, para propiciar
velocidade tão alta para as ondas luminosas (cerca de 300.000 km/s), deveria
ter uma enorme rigidez. Como você pode imaginar, deveria ser um meio material
muito peculiar, com propriedades quase que excêntricas.
Recordando um
pouco sobre as propriedades das ondas estudadas em ondulatória, devemos lembrar
que:
Para os
cientistas da época, quando a luz atravessava o vácuo, na verdade não estava
atravessando um espaço vazio mas um espaço preenchido pelo éter, que deveria
ondular ao ser percorrido pela luz.
Alguns
cientistas suspeitavam que a ideia de éter era errónea, mesmo porque, dentre
outras coisas, se ele existisse, deveria oferecer atrito para o movimento dos
planetas. É como se os planetas estivessem mergulhados num rio de éter.
Haveria, portanto, um atrito a ser vencido e, consequentemente, uma
desaceleração constante dos planetas, que acabariam sendo tragados pela
gravidade solar. No entanto, não havia nenhuma evidência de que os planetas
estivessem "brecando" por estarem mergulhados numa correnteza de éter
ao longo dos anos.
I- Toda
onda (mecânica ou eletromagnética) transporta energia e não matéria. Em outras
palavras, a energia propaga-se sem arrastar o meio.
II- A
velocidade de uma onda (mecânica ou eletromagnética) não depende da velocidade
da fonte emissora.
A afirmação I
acima é facilmente observável. Quando você joga uma pedra num lago, vê as ondas
circulares se movendo, afastando-se do ponto onde a pedra caiu, fazendo a água
(meio) ondular para cima e para baixo. Mas as partículas de água não viajam com
a onda, é apenas a energia que se propaga.
Já a
afirmação II requer um pouco mais de reflexão.
Imagine um
automóvel que pode emitir sinais sonoros (pela buzina) ou luminosos (pelo
farol).
A velocidade
do som (ou de qualquer onda) não depende da velocidade da fonte
O som da
buzina deixa a fonte com velocidade de cerca de 340 m/s em relação ao ar
parado. A velocidade do som é medida em relação ao ar e por isso independe de o
carro estar parado ou em movimento em relação ao solo. Se no local tiver vento,
a velocidade do som em relação ao solo muda pois ela vale 340 m/s em relação às
moléculas do ar.
O som não é
algo material "lançado" pela buzina (fonte). E apenas uma perturbação
do meio que se propaga através deste. Se alguém de dentro do carro lançasse uma
pedra, a velocidade dela em relação ao asfalto dependeria da velocidade da
pessoa em relação ao chão (que é a mesma do carro). Mas com o som, que é uma
onda, não é assim, concorda?
Da mesma forma, um pulso luminoso emitido pelo farol
deixa a fonte com velocidade de cerca de 300.000 km/s. Isso também independe de o carro estar parado ou em movimento em
relação ao solo. A velocidade da luz também independe do movimento da fonte,
como ocorre para qualquer onda.
Mas a pergunta natural nesse ponto é: Se a velocidade do som é medida em relação ao ar parado,
a velocidade da luz é medida em relação a que?
No final do século
19 os cientistas diziam que ela deveria ser medida em relação ao éter. Já no século 20, depois da interpretação de
Einstein desse problema, uma resposta diferente e aceitável foi dada, como
veremos logo mais adiante.
Uma onda sonora obedece à regra de composição de velocidades que já exploramos
anteriormente.
Vamos retomar o problema dos automóveis analisado no início deste texto. Um automóvel
viaja com velocidade de 100 km/h (em relação ao asfalto) e na sua frente outro automóvel viaja
com velocidade de 80 km/h (também em relação ao asfalto). Considere que não há
vento, ou seja, o ar está parado em relação à pista.
Como já
discutimos, se qualquer um dos carros tocar a buzina, a velocidade do som será
de 340 m/s medida em relação ao ar parado (ou à pista, pois nesse caso
consideramos que não há vento).
Note que, se o carro da frente buzinar, o som vai de
encontro ao carro de trás com
velocidade relativa de 100 + 1.224 = 1.324 km/h. Se o carro de trás buzina, o
som avança e encontra o carro da frente, com velocidade relativa de 1.224 - 80
= 1.144 km/h.
E curioso notar que, como a velocidade do som não depende da velocidade da fonte, a velocidade relativa
dos carros (que é de 20 km/h) não aparece nas contas. Mas, como o som se move
em relação ao ar (ou ao chão) e um observador dentro de qualquer um dos carros
também se move em relação ao ar (ou ao chão), então devemos considerar o
movimento relativo som-observador. Por isso somamos (ou subtraímos) as
velocidades do som e do observador medidas em relação ao chão, tomado como
referencial.
Vamos imaginar
agora o que acontece se os carros ligarem os faróis, produzindo pulsos
luminosos. Será que a velocidade da luz medida pelo observador que vai no outro
carro será diferente de 300.000 km/s? Será que a onda luminosa também obedece à
regra de composição de velocidades usada acima para o som?
Uma questão
importante, já abordada por nós mas ainda não respondida, pode ajudar a
responder às perguntas acima: a velocidade de 300.000 km/s para a luz é medida
em relação a que? Ao éter?
Temos duas
possibilidades, ou seja, o éter existe ou não existe:
I- Se o éter de fato existe e o observador se
move em relação a ele, assim como pode se mover em relação ao ar, então devemos
compor as velocidades da luz e do observador assim como fizemos com o som.
II- Se o éter não existe, a velocidade da luz é
absoluta e, portanto, sua medida não dependerá do observador.
Se imaginarmos a
Terra girando ao redor do Sol, mergulhada num "oceano" de éter (em
vez de vácuo), seria normal imaginarmos que existiria uma "correnteza"
ou "vento" de éter em decorrência do movimento relativo da Terra em
relação a ele. Se fosse possível medir essa "correnteza", a
existência do éter seria comprovada, satisfazendo o desejo da maioria dos
cientistas da época que não podiam conceber as ondas eletromagnéticas
movendo-se sem um meio suporte.
Um experimento
importante, proposto pelo físico americano (mas de origem polonesa) Albert
Abraham Michelson (1852-1931), foi proposto exa-tamente com essa intenção:
medir o movimento relativo da Terra em relação ao éter (veja uma descrição mais
detalhada do experimento no texto interdisciplinar da página seguinte).
Em sua versão
original, em 1881, o experimento de Michelson não conseguiu medir nada
conclusivo. Seis anos mais tarde, juntamente com outro americano, Edward
Williams Morley (1838-1923), o experimento foi melhorado e ficou 10 vezes mais
sensível. Ainda assim, nenhuma medida aceitável pôde ser feita, pois os
resultados obtidos estavam muito perto do erro experimental ante o que se
esperava medir de acordo com a velocidade orbital da Terra.
Havia uma
convicção muito forte por parte dos cientistas de que o éter existia e a
ausência de um resultado satisfatório no experimento de Michelson-Morley não
derrubou de vez a ideia de um substrato para a propagação das ondas
eletromagnéticas. Alguns cientistas, como Hendrik Antoon Lorentz (1853-1928),
por exemplo, continuaram sua pesquisa acreditando na existência do éter.
Outros, como
Einstein, passaram a buscar outras interpretações para o fato.
Já se sabia que:
E, de acordo com
Einstein, descartando a necessidade do éter:
A princípio,
esse comportamento peculiar da luz (e das ondas eletromagnéticas) parece ser
apenas uma curiosidade. No entanto, traz consequências incrivelmente
revolucionárias, como veremos logo mais adiante.
Os postulados de Einstein e suas consequências
Albert Einstein,
em seu primeiro trabalho sobre relatividade restrita, estava convencido de que
a luz deveria viajar com velocidade absoluta de valor c = 300.000 km/s
aproximadamente, independente do observador que a estivesse medindo.
Einstein, que
descartou a necessidade do éter, postulou:
1 - O movimento
absoluto uniforme não pode ser detectado.
2- A velocidade
da luz é absoluta, ou seja, é independente do observador.
A teoria da
relatividade especial (ou relatividade restrita) foi fundamentada nesses dois
preceitos. Mas quais suas consequências?
Já de imediato
percebemos que qualquer observador mede a mesma velocidade para a luz,
independente do seu movimento relativo à fonte que a emite. É um resultado
surpreendente, muito diferente do que ocorre com o som, mas ainda é só o
começo.
Se dissermos que
observadores distintos podem tirar medidas diferentes do tempo, você
acreditaria? E se afirmarmos que medidas de comprimento também podem variar de
observador para observador, o que me diz?
Pois saiba que
tudo isso pode acontecer, desde que os observadores se movam com velocidades
altas, não desprezíveis em comparação com a velocidade da luz.
Como vivemos em
um mundo de baixas velocidades, quando comparadas com a da luz, nosso cotidiano
fica restrito a fenómenos que aprendemos a ver, a sentir e a medir de uma forma
tão convincente que acreditamos serem verdades absolutas. Nasceu dessa vivência
aquilo que chamamos de senso comum, tão real e tão forte para nós que limitou
por muito tempo nossa capacidade de perceber o mundo de outra forma.
Veremos logo
adiante que a física newtoniana só vale se nos movemos com velocidades
desprezíveis em relação à velocidade da luz. Quando nossa velocidade não é mais
insignificante em relação ao valor de c, devemos usar outras ideias, outras
equações.
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Prof. Sérgio Torres