Com seus 54 anos dos quais 40 viveu sob o marco de uma depressão profunda, doença que escondera de todos. Ia a médicos e tomava os remédios, mas nada. Mesmo assim teve uma carreira e iniciou uma família, era um professor e um bom pai.
Após o divórcio ele perdeu o contato íntimo com filhos, família e amigos. Perdeu-se num mundo que a esta doença implacável e a separação criara. Não dispunha mais da noção do tempo e a vida não perdoara nenhum segundo perdido.
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Naquela madrugada, anterior ao que seria a sua grande surpresa, o sofrimento e a agonia, suas únicas companheiras, já eram tão naturais que faziam parte da sua vida. Convivendo naturalmente com esta depressão profunda que era sua vida agora. Doença maldita e terminal que encontra seu fim diante do cano de uma arma, através de pulsos cortados ou talvez num pulo do topo de um prédio, como se num voo todo sofrimento pudesse desaparecer.
Mesmo assim esperou, esperou décadas, a esperança e desespero conviviam lado a lado lutando entre si por toda sua vida. Mas, a esperança, a vencedora, veio de através de um filho que ele tivera há mais de 20 anos. Este decidiu utilizar um aparelho tecnológico simples e quase ultrapassado hoje em dia, um telefone.
Aquele telefonema parou por instantes o pesadelo, o tirou, por momentos, de um mundo perdido.
Não é comum o filho salvar o pai quando o natural é exatamente o oposto.
Mas, este filho era diferente, era forte e psicologicamente independente. Não se importara com os preconceitos e preceitos que empurram os filhos a mostrarem que o seu pai é um herói, um porto seguro e um motivo de orgulho. Ao contrário, ele decidiu dar a mão a quem, deveria naturalmente fazer o oposto.
Teve coragem de ver que o pai é um ser humano igual a todos os outros. Viu nele um amigo, um grande amigo, o melhor amigo que necessitava de uma mão corajosa e de ajuda.
O filho talvez nem fizesse ideia que este gesto resgataria seu pai de um pesadelo e de um isolamento incomum de anos, mas o que isso importa? A essência é, na realidade, a atitude.
E este fato heroico veio, talvez, através dos valores que recebera durante os poucos anos nos quais teve convivência com o pai, desde que nasceu, quem sabe?
Durante anos a fio o pai trabalhou dando aulas, eram 16 por dia, 6 pela manhã, 6 à tarde e 4 à noite. Ao chegar em casa, naturalmente cansado por ter ficado em pé durante todo o dia à frente de "estranhos" e os ajudando a ter um futuro melhor, tinha forças para contar historias de dormir e depois ainda voltar à labuta e preparar aulas, corrigir provas, dormir poucas horas para começar tudo novamente no outro dia.
Mas, a semente fora plantada. O filho, agora um homem criado, crescido, tornou-se um homem de verdade e coragem. E quase duas décadas depois, demonstrou, através de um simples telefonema.
- alô
- alô
- pai?
- como?
- pai sou eu.
- quem?
- Eu, eu, eu: seu filho, tudo bem?
- ...............FILHO!!!!!!!
O engasgo era natural, o choro e a emoção daquele fato único o deixou atônito, sem fala e até surdo. Mesmo assim, diante do que seria seu resgate, em sua mente só veio uma pergunta e uma preocupação apenas: "filho, como você está?"
Não escutara a resposta, o nó na garganta não deixava, um minuto e este minuto durara 20 anos. Tinha que aproveitar cada segundo e saborear cada segundo da saída de seu tormento e resgatado por um herói, seu filho.
Logo após veio a conversa, um longo e contínuo bate-papo entre dois grandes amigos.
Marcaram a visita.
A visita salvou sua vida.
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Prof. Sérgio Torres