Um dos maiores filósofos e lógicos do século 20, Bertrand Russell tinha uma visão um tanto solene da matemática. "Se corretamente observada, ela possui não somente a verdade, mas também a suprema beleza - uma beleza fria e austera, sem os belos ornamentos da pintura ou da música, mas sublimemente pura", refletiu em um ensaio de 1919. De lá para cá, quase um século se passou e muita coisa mudou na matemática, mas uma coisa permanece a mesma - aqueles que se dedicam ao seu estudo continuam considerando algumas equações tão belas quanto, digamos, a Nona Sinfonia de Beethoven. Foi este o assunto de um dos encontros da primeira edição brasileira do festival de divulgação científica Pint of Science (algo como "chope de ciência").
O festival surgiu na Inglaterra em 2013 com uma proposta bem original: tirar os pesquisadores de seus laboratórios por algumas noites para que dialoguem com a população em ambientes descontraídos, como bares e restaurantes. A ideia tem sido um sucesso e, neste ano, o evento foi realizado simultaneamente entre os dias 18 e 20 de maio, em 50 cidades espalhadas por 9 países. "Esta foi a primeira vez que pude falar de matemática com um copo de cerveja na mão, na USP não posso por motivos óbvios", brincou Daniel Smania, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) de São Carlos, órgão que trouxe o festival para o Brasil.
Junto da colega Thaís Jordão, que coordenou o bate-papo, Smania foi além da discussão filosófica ao apresentar dados empíricos que deixam bastante evidentes as relações entre a beleza na matemática e nas expressões artísticas tradicionais. “Quando uma pessoa vê um quadro que considera belo ou escuta uma música que julga ser bonita, ativa uma região do cérebro que se localiza logo acima dos nossos olhos. E quando um matemático se depara com uma equação que julga bela, essa mesma região é ativada”, explicou. A conclusão foi comprovada em um estudo recente que analisou através de ressonância magnética a reação no cérebro dos cientistas quando viam equações que consideravam "feias" e outras que julgavam "belas".
Mas, afinal, o que determina a beleza matemática? São dois fatores principais: originalidade e simplicidade, capazes de gerar raciocínios e resultados considerados elegantes. Originalidade significa conectar coisas que não parecem ter nenhuma relação entre si - "a gente entra em alfa quando isso acontece", brinca Daniel Levcovitz, professor livre-docente do ICMC que acompanhou o debate. Já a simplicidade tem a ver com um poder de síntese, clareza e até de estética nos cálculos. "Nem sempre conseguimos alcançá-la, quando vamos provar algo novo, a primeira prova geralmente é muito feia e técnica", explica Smania, que enxerga esse primeiro momento um pouco como o futebol. "Como um atacante, o matemático quer chegar primeiro e fazer o gol, não interessa muito se vai ser de bicicleta", compara.
Quando observado sob determinados ângulos, o trabalho do matemático é surpreendentemente semelhante ao do artista. De um jeito parecido com o de um pintor ou um escritor, ele costuma se debruçar sobre a abstração produzida para torná-la cada vez mais elegante. "Uma prova do amor do matemático pela sua ciência é que eles ficam muito tempo pensando como melhorar a prova", aponta Levcovitz. O pesquisador destaca também que, ao contrário do que muitos pensam, trata-se de uma atividade com contornos subjetivos, já que cada matemático tem um jeito próprio de encarar os problemas - enquanto uns são mais detalhistas, outros tendem mais ao generalismo. Smania não exita em considerar a matemática como uma arte. "Não é só terminar seu argumento, é você escrevê-lo de maneira elegante. Como a arte, é uma coisa social, as pessoas têm que apreciar seu trabalho", explica.
Não é qualquer pessoa que consegue enxergar plenamente a beleza dos números e do raciocínio lógico: é preciso um entendimento teórico para poder "fruir" uma equação, o que não ocorre com um quadro ou uma música, por exemplo. Mas, ainda assim, os leigos são capazes de contemplá-la, mesmo que intuitivamente. "A beleza matemática é tão verdadeira no nosso mundo que até as pessoas que não têm contato direto com ela conseguem perceber que a conexão existe", comentou Priscila Gutierres, também do ICMC. A maneira mais comum pela qual ela se manifesta é na natureza e em suas formas exóticas, cujo estudo sempre foi um desafio para a geometria clássica.
“Um raio não se parece com uma reta. A superfície do mar não é plana. Uma montanha não é um tetraedro. Se tentarmos compreender o mundo usando as figuras geométricas tradicionais, não vamos conseguir entendê-lo. Precisamos de uma nova geometria para descrever essas coisas, e é aí que nasce a geometria fractal”, explica Smania. Os fractaissurgiram nos anos 1970 a partir de uma matemática avançada gerada por computadores. Quanto mais se mergulha dentro dos padrões, mais intrincados eles ficam, revelando cópias cada vez menores, rodeadas por cores e formas incríveis. Essas estruturas são matemática ou arte? Certamente, as duas coisas.
A descoberta recente dos fractais também evidencia que a matemática não é um campo estático, como muitos pensam depois do que aprenderam no ensino básico. "As pessoas às vezes têm essa ideia de que a matemática é uma coisa fixa, mas ela também evolui, é um ramo criativo", diz Smania. Estudos em física quântica e teoria das cordas, por exemplo, exigem uma matemática cada vez mais sofisticada. E, ao contrário do que pensava Russell, para o pesquisador ela deixou há tempos de ser fria e austera. Em muitas ocasiões, a matemática chega até a ser lúdica. "Para as crianças que fazem olimpíadas de matemática, ela é um jogo, um passatempo, algo muito mais colorido".
http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/05/matematica-pode-ser-considerada-uma-forma-de-arte.html
Forte abraço,Prof. Sérgio Torres
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