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segunda-feira, 25 de maio de 2015

MULHER, CERVEJA E MACHISMO



Mulher, Cerveja e Machismo – A Representação Feminina nas Propagandas de Cerveja é um documentário colaborativo e independente que pretende investigar e discutir a exploração midiática da imagem da mulher nas propagandas de cerveja veiculadas no Brasil.
Por meio desta análise e debate, o objetivo seria contribuir para iluminar um ponto bastante sensível e ainda mais amplo, que é a representação equivocada, estereotipada e preconceituosa da mulher pela mídia (seja na publicidade, no jornalismo, no cinema, na TV, nas revistas ou em qualquer outro veículo/forma de comunicação).
A ideia surgiu depois da repercussão da campanha O Verão Chegou/O Verão é Nosso, da cerveja Itaipava, que mais uma vez objetifica a mulher. Parece difícil acreditar que, a esta altura, ainda tenhamos que perguntar: por que é tão difícil para a mídia retratar a mulher como sujeito — e não como objeto?
A equipe do documentário defende que essa discussão é urgente: “Acreditamos nos direitos igualitários entre os gêneros. É preciso valorizar o espaço da mulher frente à sociedade contemporânea”.
O processo de pré-produção, produção e pós-produção levaria aproximadamente seis meses. A previsão é de que o filme seja lançado em janeiro de 2016. Para que isso seja possível, existe uma campanha de captação de recursos no Kickante (saiba mais aqui).
Conversei com Andressa Coelho, diretora de produção do documentário — e, infelizmente, ainda a única mulher da equipe principal (vamos mudar isso, pessoal?), que gentilmente respondeu às perguntas para o Update or Die:
Quais iniciativas positivas vocês destacariam sobre a representação da mulher na mídia? Existem marcas (nacionais e internacionais) acertando? Podem nos citar exemplos?
Podemos apontar dentre os nossos próprios apoiadores, grupos que estão fazendo a diferença com iniciativas criativas e revolucionárias que visam estabelecer o debate e a promoção da representação da mulher na mídia de forma consciente e digna através do empoderamento da mulher – Think Eva, 65/10 e a Rede Mulher e Mídia são alguns destes grupos. No Brasil, a Cervejaria Perro Libre, do Alberto e Thiago Galbeno, lançou a 803 (veja o vídeo aqui) no último dia 8 de março, livre do estereótipo machista de que as mulheres bebem apenas cerveja leves e frutadas.
Como se deu o engajamento de vocês com a causa? Sei que o estopim foi a campanha O Verão é Nosso, mas a dupla cerveja e machismo tem história no Brasil e no mundo. Recentemente tivemos também polêmicas com  Heineken, Devassa e Skol, para citar apenas alguns exemplos.
O engajamento da equipe foi natural, uma vez que todos no grupo já discutem os preconceitos de gênero, de orientação sexual, raça e classe desde que saíram da adolescência, mas de fato o estopim foi a campanha O Verão é Nosso. Somos comunicadores, temos boa memória e sempre estamos discutindo os altos e baixos da nossa propaganda, como a do ‘controle remoto’ da Kaiser protagonizada pelo Marcos Palmeira e Murilo Benicio veiculada no começo da década passada e muitos outros absurdos já praticados contra a mulher pela premiada publicidade brasileira em nome da cerveja. Por aqui (mas não apenas aqui) este tipo de publicidade é produzido há muitos anos impunemente. E uma vez que este tipo de conteúdo é formador de opinião e ajuda a arraigar males como o machismo, a violência e uma série de estereótipos, é um crime cometido contra a mulher — e contra a sociedade do geral, Precisamos de uma lei como a 26.485, em vigor na Argentina, que tipifica as formas de violência contra a mulher como física, psicológica, sexual, econômica, patrimonial e simbólica; e define as modalidades dessa violência como doméstica, institucional, laboral, reprodutiva, obstétrica e midiática. O mais curioso é que esta lei foi promulgada na Argentina em 2009 e tem como principal referência a nossa Lei Maria da Penha — uma conquista importante, mas ainda uma lei com falhas, que não protege a mulher contra a exploração midiática e publicitária.
Além da dificuldade com o financiamento, quais outros obstáculos ainda fazem parte da empreitada de quem faz produção audiovisual independente no Brasil, especialmente sobre um tema que incomoda muita gente?
Se eu fosse o Quico Meirelles (filho do Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus) ou se eu fosse diretora em alguma grande produtora, dificilmente alguém deixaria de responder aos meus e-mails ou desligaria o telefone na minha cara. As portas se abririam facilmente, teríamos espaço na mídia, sairíamos na Folha de São Paulo e daríamos entrevista pro Jô Soares. Porém, somos independentes, não somos famosos e nem temos dinheiro — e ainda decidimos abordar um tema sensível, pois compromete um esquema enraizado e generalizado, que faz enriquecer cada dia mais os magnatas da cerveja e os oligarcas do audiovisual brasileiro, que em geral reproduzem o preconceito contra a mulher e reforçam a alienação que assola todo um povo.
* * *
Para quem quiser apoiar a iniciativa, é possível contribuir com valores a partir de R$ 10,00. Participe aqui.
Acompanhe as novidades sobre o documentários e também outras discussões relacionadas à problemática representação de gênero na página da iniciativa no Facebook.
Ainda sobre o assunto, vale ler essa matéria da Folha de São Paulo sobre a Cerveja Feminista e o post de Paula Rizzo aqui no Update or Die.
* * *
Update: Andressa Coelho informou que mais duas mulheres (uma roteirista e uma designer) estão se juntando à equipe principal. Em breve, o status do projeto deve ser atualizado.

Forte abraço,
Prof. Sérgio Torres
                                                     Sergio Torres

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Prof. Sérgio Torres