Pesquisa da Pearson ouviu diferentes grupos para identificar as principais qualidades que devem compor o perfil docente
por Marina Lopes 20 de abril de 2016
Quais são as principais qualidades que definem um bom professor? De acordo com um estudo produzido pelo grupo editorial britânico Pearson, as competências socioemocionais contam mais do que o domínio de conteúdos ou as habilidades de ensino. Após ouvir familiares, alunos, educadores, administradores, pesquisadores e representantes políticos brasileiros, a pesquisa identificou que no topo da lista aparecem características como relacionamento, profissionalismo, paciência e dedicação.
Realizado entre março e novembro de 2015, o relatório Global Survey of Teacher Effectiveness (Pesquisa Global de Eficácia do Professor, em livre tradução) fez um levantamento em 23 países para identificar quais são as características-chave de um bom professor. No Brasil, que teve resultados semelhantes ao de outros países em desenvolvimento, como México, Índia e África do Sul, foram entrevistadas mais de 500 pessoas nas capitais Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Para os estudantes brasileiros, a paciência é a principal qualidade de um bom professor (13%). Em seguida, aparecem as características voltadas para o relacionamento (12,8%), o profissionalismo (11,4%) e as habilidades de ensino (7,3%). Já para os líderes escolares, as habilidades de ensino aparecem na primeira posição (11,4%).
Os pais também apresentam uma percepção muito parecida com a dos estudantes, destacando qualidades como profissionalismo (14,2%), relacionamento (13,2%) e paciência (11,8%). Na mesma direção, os professores ainda destacam a dedicação (9,8%) como uma característica-chave, além das outras já apontadas pelos pais e alunos.
Em diferentes posições, algumas características se repetem entre as quatro mais citadas pelos diferentes entrevistados. No entanto, os pesquisadores e representantes políticos ainda destacam outra qualidade, que está relacionada ao gerenciamento da sala de aula (8,4%). Essa habilidade aparece na quarta posição, atrás apenas de relacionamento (12,2%), paciência (12,2%) e dedicação (10,7%), respectivamente.
A partir do levantamento, o estudo traz algumas reflexões para a realidade educacional brasileira, como a necessidade de desenvolver a inteligência socioemocional dos professores para apoiar a construção de relações de confiança. E quando o assunto é formação de professores, os resultados também demonstram que os educadores devem ser treinados para desenvolver liderança e colaboração.
4 ideias para aumentar a satisfação do professor com seu trabalho
Pesquisa da OCDE envolvendo 38 países sobre profissionalismo mostra como são importantes a formação e a troca de experiências
por Vinícius de Oliveira 19 de fevereiro de 2016
Um professor que recebe apoio no dia a dia e é estimulado a fazer parte de uma rede de troca experiências com colegas é mais satisfeito e comprometido com seu trabalho. Se ele estiver diante de uma classe em regiões de baixo nível socioeconômico, mais importante ainda são essas atitudes. Essas conclusões e recomendações fazem parte de um novo estudo divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) chamado “Apoio ao profissionalismo do professor”, que por sua vez é baseado na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS, na sigla em inglês).
No estudo o conceito de profissionalismo se divide em outros três: 1) base de conhecimento para dar aula (o que inclui formação inicial e continuada); 2) autonomia, definido como poder de decisão de um professor sobre aspectos relacionados a seu trabalho; e 3) redes que promovem intercâmbio de informação para apoio ao ensino e evitar o trabalho isolado em um mundo que exige cada vez mais colaboração. No levantamento feito com 100.000 professores e diretores de 34 países e dados provenientes de outros quatro, incluindo o Brasil, o nível de profissionalismo docente é medido de acordo com o número de boas práticas alcançadas pelo professor.
“Essas práticas formam uma base importante para a qualidade da equipe de ensino e também impactam a maneira como os professores avaliam seu trabalho. Professores são mais satisfeitos e confiantes, e tem uma melhor percepção a respeito da importância da profissão na sociedade quando existe um apoio à criação de redes de troca de informação e de uma base de conhecimento”, disse a pesquisadora e diretora Katarzyna Kubacka no blog da entidade.
Apesar da variação entre os países sobre o nível do que a OCDE considera profissionalismo, a pesquisa descobriu que existem áreas que são notadamente enfatizadas. Por exemplo, professores costumam receber maior incentivo durante a formação inicial do que durante o período em que já estão comandando uma sala de aula. Também é menos provável que eles tenham acesso a uma bolsa para um curso de aperfeiçoamento fora do horário de trabalho.
Com um recorte para professores da etapa que no Brasil equivale ao ensino fundamental 2, o estudo encontrou importantes diferenças entre as escolas. Os de ensino fundamental tem maior chance de ter participado de um programa de formação inicial do que aqueles de ensino médio. Por outro lado, esses últimos são mais propensos a demonstrar autonomia quando comparados aos colegas das turmas de alunos mais novos.
Apesar de países terem sistemas de formação parecido, existem grandes diferenças entre o nível de poder de decisão dado aos professores e o de apoio à formação de redes para troca de conhecimento e experiências. Neste último caso, mais precisamente, os professores tendem a receber feedback (retorno) de colegas e supervisores a partir de observação direta. A participação em um rede de professores dedicada ao desenvolvimento profissional ou em algum programa específico é menos citada.
Falando em um webinar com a presença de especialistas dos Estados Unidos, Andreas Schleicher, diretor de educação e aptidões da organização, comentou um dos mitos envolvendo um país que sempre esteve no topo dos rankings. “Muitos veem a Finlândia como a Meca para professores. Isso é verdade quando se olha para autonomia, porque são bem preparados e têm autonomia. Mas os professores finlandeses tem menos oportunidades para se juntar a redes de aprendizagem”, disse. Em Shangai, na China, o trabalho de mentoria recebe maior atenção, seja com o envolvimento de docentes em reuniões semanais ou competições com colegas.
Satisfação, status e autoeficácia
Ao examinar a relação entre profissionalismo do professor e de políticas voltadas a ele, o estudo aponta que elas impactam no reconhecimento de status, satisfação com a profissão e o ambiente escolar e autoeficácia. Ter base de conhecimento e uma ampla rede de colegas são fatores que estão ligados a um maior status e satisfação em todos os países, enquanto o mesmo não acontece com a autonomia.
Preocupação com a equidade
O relatório da OCDE também analisou como o apoio aos professores acontece em escolas de diferentes níveis econômicos e sociais. As unidades que mais precisam de ajuda são as que possuem alunos estrangeiros, que não tem a língua local como materna; que tem necessidades especiais ou nível socioeconômico mais baixo. A característica que mais separa escolas privilegiadas daquelas que necessitam maior atenção é a autonomia.
Como esperado, o nível de apoio que os professores recebem tem ligação direta com a satisfação que demonstram com o atual emprego. Importante para questões de equidade, a associação entre apoio ao profissionalismo e satisfação é maior para professores de escolas com maiores necessidades, o que sugere que um dos melhores investimentos que diretores podem fazer para motivar suas equipes é providenciar práticas que apoiem o profissionalismo do professor.
“Professores dessas escolas [em regiões com maiores dificuldades] podem enfrentar muitos desafios que são desconhecidos em escolas de bom desempenho e com menores deficiências”, escreve Katarzyna.
Implicações políticas
Apesar de reconhecer a influência benéfica para os professores de altos de níveis de profissionalismo, o estudo da OCDE reconhece que é difícil chegar a um nível de excelência em diferentes contextos. Além disso, prefere não levantar hipóteses sobre o que é melhor para cada sistema. Em vez disso faz recomendações sobre o que uma política eficiente deve considerar, especialmente para escolas de fundamental 2, com alunos de baixo nível socioeconômico:
– requisitar que professores participem de um programa formal de formação inicial que os exponha à pedagogia e à prática;
– expandir programas de indução e mentoria;
– apoiar professores na realização de pesquisas em sala de aula individuais ou colaborativas;
– encorajar professores a participarem de redes com outros professores para a troca de informações.
Forte abraço,
Prof. Sérgio Torres
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Prof. Sérgio Torres